Tempos Modernos
Ramalho Leite
Outro dia estava chegando a João
Pessoa e ouvindo a entrevista de um deputado sobre a pretendida instalação de
uma Comissão Parlamentar de Inquérito-CPI para apurar casos de pedofilia. De
súbito, ele parou seu discurso e esclareceu aos ouvintes:
-Antigamente se chamava de
tarado. Com o “avanço da tecnologia”, agora se chama pedófilo....
Deixando de lado a “tecnologia
parlamentar”, enquanto estou em Bananeiras aguardando que sejam acesas as
fogueiras do Melhor São João Pé de Serra do Mundo, sou testemunha do seu avanço
na seara do desenvolvimento sustentado. A cidade mudou o seu norte desde que a
patroa aqui de casa virou prefeita. Ela tem repetido que esse novo rumo foi fruto do seu inconformismo com a
acomodação secular que apontava para a estagnação econômica do município. Ao chegar à Prefeitura, Marta
deparou-se com um quadro econômico deveras constrangedor. O dinheiro circulante era produto quase exclusivo da aposentadoria
rural e do bolsa família. Para um
município que já rivalizara com Minas e São Paulo a qualidade do seu café, era
de verter lágrimas.
A propósito, foi para levar a
produção cafeeira até Cabedelo e de lá à
exportação, que Solon de Lucena defendeu intransigentemente a chegada do trem,
“nem que fosse por debaixo da terra”. E foi assim mesmo. A escavação do Túnel
da Serra da Viração demorou dez anos e,
quando, finalmente, a máquina a vapor aportou na estação que o esperava há dois
anos, a praga havia dizimado as
plantações de café. Os senhores do café viraram senhores de engenho e o retrato
da riqueza da época se revela ainda hoje na arquitetura dos casarões e sobrados
centenários.
Pois essa historia, a beleza que
restou da opulência cafeeira, os recursos
naturais do território e o clima de serra gaúcha precisavam ser
divulgados e vendidos aos investidores e visitantes. O trabalho iniciado em
2005 com uma legislação protecionista que incentiva a construção de moradias de
lazer, hotéis e pousadas e a preservação do patrimônio histórico, começa a
produzir frutos a olhos vistos. Já são oito os condomínios registrados e alguns
já entregues aos seus sócios, com toda a infra-estrutura anunciada. Os hotéis
estão surgindo e começam a ser inaugurados.
Um desses casarões seculares a
que me referi, foi restaurado, adaptado e ampliado. Virou um hotel com 55
apartamentos. Um equipamento de primeiro mundo.
O hotel pretende hospedar prioritariamente os adeptos do golfe pois o
mesmo grupo empresarial constrói o primeiro campo de golfe da Paraíba, aqui em Bananeiras. Que
enxerimento não? Alirio Trindade Leite é o nome da fera principal, coadjuvado
por Josines Cirne Ramalho sócios nesses empreendimentos.
Pois é com alegria que vejo esse
avanço de Bananeiras nos tempos modernos. Que pena essa nova historia não ser
testemunhada por Clovis Bezerra, Humberto Lucena, Orlando Cavalcanti, Maurílio
Almeida ou pela “candeia espevitada da UDN”, Arlindo Ramalho que abriu esse
caminho para Marta.
Estamos bem distantes da luz elétrica que
vinha de Borborema, invenção de Zé Amâncio Ramalho, pai do General Edson. Está
longe a historia do primeiro ferro de
engomar que Manoel Soares comprou. O
ferro pedia energia demais para a corrente fraca que era distribuída. Conta o
professor Waldez Soares que toda vez que sua mãe ligava o ferro elétrico a luz
oscilava e a cidade reclamava:
-Ligaram o ferro de Manoel Soares...
Agora amigos, quando a luz tremer
em Bananeiras, a cidade vai dizer feliz:
-Ligaram o elevador do Hotel de
Alirio. Chegamos à modernidade!